Não tinha como essa carta da semana não ser sobre editais.
Eu só penso nisso, só falo disso, só respiro isso. No dia 15 de janeiro, foi lançado o edital de Apoio à Criação Artística da Gulbenkian. Fácil de se inscrever, não? Mas é super concorrido, e eu nunca entendi bem o que eles realmente procuram. Parece algo um pouco inacessível, quase como um espaço feito "de ricos para ricos". Sinceramente, não sei... Nunca vi artistas muito próximos de mim ganhando um edital da Gulbenkian.
Espero estar errada. Se alguém quiser nomear casos, vou adorar saber para a esperança renascer.
O Viral Inesperado
No entanto, o post que fizemos no Instagram do Se Organiza, Artista! viralizou, e isso me mostrou algumas coisas. Quando divulgo editais menores, focados em artistas iniciantes ou emergentes, raramente viraliza, embora 99% dos seguidores sejam o quê? Artistas iniciantes. E iniciantes aqui não digo de tempo de carreira não, tá? Digo de estrutura sustentável de financiamento. Iniciantes nessa jornada aqui do caminho entre a criação artística e a produção criativa.
Pois bem, já com a Gulbenkian, que é uma "marca forte", o engajamento foi imenso — mais até do que o edital Programa de Apoio a Projetos 2025 da DGARTES, que também foi lançado no mesmo dia.
Editais da Gulbenkian vs. DGARTES
O edital da DGARTES, pelo menos, me parece mais transparente e acessível, especialmente para alguém como eu, uma imigrante. É um edital público, com candidaturas claras, júri mais diverso e feedbacks acessíveis. Ou seja, minimamente democrático.
É algo que falta em instituições privadas que recebem inclusive fundos em cascata de Europa Criativa e afins, ou de mecenato como a Gulbenkian — cadê as colocações dos jurados? Os pareceres? Como melhoramos? Ou entendemos o processo como de fato transparente e justo?
No nosso Instagram, estamos separando as seis linhas do apoio da DGARTES, tentando deixar mais claro esse passo a passo. Às vezes, os editais abertos contêm diferentes chamadas com regulamentos próprios, e isso pode ser confuso.
Qual deles é para aplicar, afinal? Não era a chamada da DGARTES? Aí você vê e não é UMA chamada — são SEIS tipos — e dentro delas ainda tem o quê? Variações!
Massss… BORA, TIME! É para se inscrever nos dois ;) Aproveite o trapolim!
Para os de Fora de PT ou Imigrantes
Como hoje é sobre editais, deixo um recado especial para meus brasileiros no Brasil e comparsas da CPLP e PALOP: façam coproduções! Catem os seus que estão com documentação e residência em Portugal. Não joguem fora essa chance.
Apostem na internacionalização de projetos, circulação de obras, e usem o que eles consideram "fraquezas" como força. Depois, argumentem como e por que Portugal se alinha com sua proposta.
Há diversos caminhos. Não é à toa que tantos de nós imigramos para cá — e tantos daqui buscam conexões conosco. Somos portais e travessias também. Nossa rede de contatos atravessa um bando de fronteiras, e isso traz novos caminhos possíveis de financiamento. Aproveitem essa ponte. Não enfrentem ela, atravessem!
Ah! Tem na parte do PALOP outro edital da Gulbenkian aberto para quem não é residente em Portugal e quer vir para cá. Há poucos, mas existem! Principalmente para residências e pesquisa: Bolsas Gulbenkian Investigação em Cultura Portuguesa para Estrangeiros.
Clica aí e lembra: fico sempre de olho nessas coisas para quem não está aqui, mas quer vir. 😉 Amamos visitas que tragam comida, principalmente! Haha.
Reflexões sobre Equidade e Júris
No grupo de produção, alguém comentou que os especialistas da linha da DGARTES de música e ópera são composto por 05 homens. Como pode? Um edital público em que, no regulamento, uma das metas é justamente promover igualdade de gênero? Será que eu também estou louca de questionar sobre isso?
Com espaço para preenchermos como vamos melhorar a igualdade de gênero em nossos projetos? Isso levanta dúvidas, para não dizer outras coisas — pois, como todos sabem, eu vou concorrer. E minha cara anda quentíssima por aqui. Mas, pois bem, ainda não consegui analisar tudo em detalhes, porque há muitos editais e variáveis.
Mas é algo a se observar: quem vai te avaliar? Quem são as comissões?
Sobre Editais e Aprendizados
Para quem nunca participou de editais como o da DGARTES, minha dica é: abra a plataforma, mesmo que seja só para explorar. Faça seu cadastro — só precisa do NIF (o CPF de quem reside em Portugal). Descubra o que falta no seu projeto.
Por exemplo, eu, imbecil que sou no mundo casa de ferreiro espeto de pau, percebi que não tinha uma atividade aberta no meu, que era só algo essencial para certos editais.
Além disso, o sistema tributário português pode ser complicado para artistas: IVA, artigo 53, estatuto do artista… Não é simples. É bom começar para não entrar no mergulho já se afundando. Bora colocando devagar o pé na água gelada!
Busque ajuda!
Felizmente, há apoio. O Polo Cultural das Gaivotas oferece atendimento gratuito para ajudar artistas com dúvidas sobre essas inscrições através do 𝗦𝗲𝗿𝘃𝗶ç𝗼 𝗱𝗲 𝗔𝘁𝗲𝗻𝗱𝗶𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗔𝗽𝗼𝗶𝗼 𝗮 𝗖𝗮𝗻𝗱𝗶𝗱𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝘀 𝗘𝘅𝘁𝗲𝗿𝗻𝗮𝘀 𝗱𝗮 𝗟𝗼𝗷𝗮 𝗟𝗶𝘀𝗯𝗼𝗮 𝗖𝘂𝗹𝘁ura.
Marca lá! Leve seu projeto, suas ideias, e vá o quanto antes, porque as agendas tendem a ficar bem apertadas neste início de ano.
Ansiedade em Meio ao Caos
A avalanche de editais neste início de ano está me deixando ansiosa. Parece que toda a minha vida vai ser decidida nos próximos dias. E, como se isso não bastasse, ainda estou lidando com uma mudança de casa.
Minha rotina tem sido escrever projetos para os outros, para mim, para editais. É um ciclo de escrever, revisar, sonhar com projetos. Parece insano, mas a minha grande dica é sempre a mesma:
Feche os olhos e visualize seu projeto acontecendo.
Imagine cada detalhe:
Quem estará na porta para receber o público?
Vai ter ingresso? O que as pessoas verão primeiro?
Haverá uma banda? E a luz? Quem será responsável pelo som?
Vai ter projeção no fundo?
Esse exercício ajuda a planejar melhor. Você desenha as etapas, cria um orçamento e tenta, com seus rabiscos de passo a passo, que é único do teu projeto, estar mais alinhado e ajusta suas expectativas à realidade.
E a lindeza da semana foi receber de uma amiga artista amada a seguinte mensagem que encheu meu coração de orgulho e alegria, porque PORRA, É ISSO CARALHOW:
Bota timeeeeeee.
Realmente, é muita alegria ver isso. É muito bonito observar uma artista se esforçando para organizar suas ideias – e isso é um grande peso mesmo. Tenho certeza de que, quando tiver dinheiro, terá uma produtora ao lado dela. Mas, enquanto isso, ela não está deixando de fazer, dando importância ao que realmente importa agora: o processo. Está reconhecendo essa sensação. Não é sobre ganhar em si o edital, é sobre: "Eu consegui completar o ciclo: idealizar, escrever, formatar, enviar!". Ninguém está dizendo que é a melhor maneira, mas é sobre usar o ciclo, ter isso pronto para o próximo edital. As etapas estão sendo concluídas e ultrapassadas. No próximo, ela terá mais músculo, estará mais treinada, com menos peso e vai ficar, assim espero, menos angustiada com o envio.
As tais perguntas “essenciais” para guiar seu projeto…
Geralmente, a galera de edital lança perguntas como: “Sua proposta é clara?”, “O orçamento está detalhado?”, entre outras.
Mas as 5 questões essenciais para mim são bem diferentes:
1️⃣ Se você ganhar, vai ficar feliz ou desesperada?
2️⃣ Quando o dinheiro cair na sua conta, você vai conseguir organizar bem o uso? Tem alguém para ajudar nesse controle?
3️⃣ Qual é a primeira coisa que você vai fazer depois de assinar o contrato?
4️⃣ Feche os olhos de novo: veja a travessia até o dia da estreia/entrega do projeto. Que roupa você está usando? Onde você está?
5️⃣ Quando sua ideia sair do papel, você vai ficar muito feliz. Por quê?
Seguimos falando, produtores, artistas, criativos amados. Se precisar de ajuda para preparar sua proposta sem desistir!
Vamos marcar um bate-papo e organizar tudo juntes! Tem um chat aqui abaixo pensado para isso, mas nesse momento que eu também não ganhei ainda edital — é só para aqueles que, no momento, podem arcar com 5€ por mês e apoiar financeiramente esse projeto. Bora ser sustentáveis e nos apoiar!
Até semana que vem,
Com carinho e energia,
Chaiana Furtado 💜
#FocaNaLuz ✨
☎️ Chamadas abertas em destaque - Portugal💥
📍janeiro
24/01 - Ressoa - músicos de várias nacionalidades - nas regiões entre o Fundão e Lisboa
31/01 - VI Feira Ibérica de Teatro
31/01 - Bolsas Gulbenkian Investigação em Cultura Portuguesa para Estrangeiros
📍fevereiro
11/02 - Circulação de Obras Literárias Europeias
14/02 - [BOLSAS FLAD] Residências Artísticas nos EUA 2025
20/02 - Tijolo - Residências Artísticas
26/02 - DGARTES: Programa de Apoio a Projetos 2025
28/02 - Cultura em Expansão - Porto
📍março
02/03 - Sonoscultura - Residência coletiva
10/03 - Apoio à Criação Artística - Gulbenkian
31/03 - 5ª Edição do Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina
31/03 - Programa Regional NORTE 2030
🚀 Para todas as chamadas em aberto que publicamos, dicas gerais e materiais de estudo e pesquisa acesse todos os links pelo nosso Bento.me ;)
🏹 #SeInspiraArtista
A artista dessa semana que dialoga com o nosso tema é a Aline Motta. .
A artista de hoje que transpassou seu trabalho pela nossa cartinha da semana foi a Aline tem uma produção que explora as questões de identidade, imigração e a experiência do deslocamento. Seu trabalho mistura mídias e abordagens, frequentemente refletindo sobre as camadas da experiência imigrante e o caos criativo que pode surgir nesse contexto.
Essa série do “Varal do meu vizinho” é bem emblemática para mim do que é termos um olhar curioso e aguçado sobre o o outro que nos cerca.
“Este trabalho é uma investigação fotográfica sobre cor e forma, passagem de tempo e espelhamento em tensão com a arquitetura, modos de vestir e modos de conviver.
Durante um longo período de tempo, fotografei o varal do meu vizinho de cima no Rio de Janeiro registrando as diferentes possibilidades que as suas roupas estendidas me ofereciam aleatoriamente. A combinação do acaso, das condições climáticas do dia e dos diferentes elementos formavam um quadro em constante transformação e que estava fora do meu controle.
O que uma imagem e seu duplo refletido na minha janela podem se tornar para quem vê? Imagem e semelhança?
Anacronismo, sobrevivência, memória, vizinhança, linha do horizonte, limites, pontos de vista”
”Aline Motta - Varal do meu vizinho -2008 - 2012 - Fotografia”
Saiba mais sobre o trabalho da artista aqui.
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🔮 Se Organiza, Artista meu!
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