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#SOA_039 | a sós, mas não sozinha
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#SOA_039 | a sós, mas não sozinha

agarrei meu gélido medo e tive que esperar derreter
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Eu achei que era um diamante, mas era um violoncelo de gelo e tocaram ele até derreter.

Eu vou começar de novo: vi uma foto. Eu achei que era um diamante, mas era um violoncelo de gelo e tocaram ele até derreter. Quem tocou foi uma mulher.

E aí eu parei e fiquei olhando aquela imagem.

Era uma mulher sentada, segurando o arco, tocando um bloco de gelo. E tem muita coisa nesse mundo que a gente não conhece e a gente jamais vai conhecer. Que delícia, não?

Eu vi essa foto e fiquei congelada, porque eu não sabia o que eu ia fazer com aquilo, o que pensar. Então, eu fui atrás da história da artista. Eu fui fazer a pesquisa, mas percebi que nada me tocou tanto quanto a própria imagem, congelada.

Gelo queima: "Amor é um fogo que arde sem se ver"

A artista tocando o violoncelo de gelo, nua, me agitou. Algo me balançou. O gelo, que glória, não estava numa performance para falar do óbvio: não era sobre o clima, nem sobre o aquecimento global. E só vendo a foto, não podia dizer sobre o que era. E isso é muito bom. O lembrar de não saber. Mas ver a vulnerabilidade exposta, ali, presente com o corpo. Que maneiro.

É uma grande loucura ser atravessada por uma foto.

Vivemos em um mundo saturado de tudo: fotos, imagens e informações.

Nada é banal, mas também nada é relevante.

Até os ataques neonazis dos fachos na esquinha de casa, no dia 10 de junho, eu vi, chorei, tive medo. Não entendi exatamente, o cérebro travou, pensava: de novo, de novo, nunca vai parar, como viver sempre em luta, cacete. E, às vezes, a capacidade de nos emocionar parece estar congestionada.

No meio disso tudo, essa foto me paralisou.

Que magia. E isso nenhum facho e seu punho aberto ao ataque tirará de nós. Um soco fascista levanta um punho de ódio, mas esse soco também levanta um levante: um punho em riste de uma multidão pronta para resistir. Não queremos estar sempre em luta, mas estamos e estaremos. A foto congelada diante de nós, e a verdade do ato de violência, são dois extremos da mesma moeda de resistência humana.

E as fotos da concentraçãoNão queremos viver no país do medo” também atravessam. Não estar congelada, embora carregando blocos de gelo.

A nossa resistência não está em negar o medo.

A costura essa semana, não parece ter acontecido. O pensamento não fazia sentido para mim e para as vozes da minha cabeça.Sem trilho narrativo, fui encaixando coisas aqui sem saber o que é utilidade. Vamos por blocos.

Esquecimentos 1: “O boné do MST”

Minhas brigas de casal são cada vez menos sobre nós dois e mais sobre o mundo em conflito que vivemos. Não é que não concordamos, mas o sofrimento que nos atravessa parece não ter mais espaço de resistência em nenhum lugar: aqui, na esquina de casa, em Gaza, no Teatro da Batalha, com colegas de trabalho. E, enquanto uns querem sofrer em alto bom som, outros em silêncio. Receber mensagens de amigos perguntando se estou bem, se estou cuidando de mim, é um sinal claro: o déjà-vu chegou.

Para todos que sabem o delírio de viver neste mundo de ondas, será que também é assim na nossa vida pessoal e profissional? Somos impulsionados a sentir tudo ao mesmo tempo, tentando sair dessas sensações, sem saber muito bem o que fazer com o que sentimos.

Eu não sei, e você sabe?

Mas, por favor, não me peçam para silenciar os meus sentidos.

Foi nesse emaranhado que me deparei com a foto da artista acima e comecei a me questionar: gelo sai som? Ainda estou com vontade de tentar esse experimento.

E, de repente, minha coleção de blusinhas vermelhas, bolsinhas, bonés esquerdistas, me trouxe à memória o primeiro ataque que sofri ao usar um boné na rua no Rio de Janeiro. Parei de usá-lo nos anos Bolsonaro, quando me senti covarde. Um ato tão simples, mas a regra era clara: estar viva. Coleque sempre primeiro a máscara de oxigênio em você.

Lembro também da campanha do Lula em 2023 de voltar a usar aqueles itens do armário, com um misto de resistência e alívio. Não só de: sobrevivermos, mas de “enquanto há vida, há esperança” Quando cheguei a Portugal, até hoje, posso escolher qualquer roupa para sair na rua, e essa liberdade tem cheiro de segurança e de um refúgio que eu nunca havia conhecido.

Engana-se quem acha que segurança se resume a assaltos à mão armada. E agora, volta um “será” na hora de ir escolher a roupinha para ir ao mercado…

E lembro, também, do caminho que percorri não só para viver hoje, aqui, de arte, mas para seguir entre trabalhos remunerados e os sonhos. Esse tal equilíbrio no desequilíbrio. Esse projeto aqui, o SOA, vai atravessar anos difíceis como todos nós. E, sim, já começou e, balança, mas com ele, vem o medo da autocensura que posso me impor. O medo da deportação ou da exclusão e é sempre uma sombra não só para mim, como para qualquer imigrante.

E claro, sabia que chegariam as mensagens de quem já viveu aquilo – de quem já foi tijolo em manifestação desde 2013, e também de quem, como eu, não conseguiu estar na manifestação daquele domingo.

Obrigada a quem foi. Dessa vez, não foi possível para mim. Mas o movimento segue constante dentro de cada um de nós, e o limite, como sempre, é a saúde mental.

Fiquei me perguntando, claro, como o Thiago Ávila, na solitária em Israel, o ator, o passado, e eu. Não consegui ler as matérias com clareza, minha cabeça estava embaralhada, briguei em casa, as informações estavam desconexas.

Eu, que falo tanto, tanto para processar, me vi congelada. Me vi falando: eu não quero mais falar sobre isso. Resistir para trazer isso pq até agora o que realmente está acontecendo.

Tem o sentimento meu que é de querer estar em algum lugar no mundo seguro que não existe. Poder chamar algum lugar de casa, que não há. Poder deixar minha caminhada atrás do meu Caminho de Santiago, que não me foi possível desbravar. Eu sou um corpo, como alguns outros, e tantos outros, marcado de medo e trauma, inclusive de andar na rua.

Mas, mesmo sem saber se um dia terei coragem de colocar mais uma vez meu corpo em caminhadas sozinha por trilhas desconhecidas, sei que estou aqui, semana após semana, na covardia dos que escrevem ao invés de realmente falarem ou agirem na ação: eu tô seguindo.

prints do meu whatzapp, obrigada aos amigos <3

Esquecimentos 2: “cada item carrega um subitem secreto”

Cada item carrega um subitem secreto.1 Enquanto escutava Tamara Klink narrando, ""Nós: O Atlântico em solitário", me dei conta de quanto também congelei na minha própria travessia de escrita aqui e fiquei travada nas preparações das análises.

Estudei muitas coisas essa semana, finalizei livros, mas parei para fazer coisas mais mundanas. Ontem, pensei: vou fazer comida bonita, vou voltar a cuidar de mim, da casa, do presente dos meus desejos. O desejo de manter isso aqui funcionando parecia (ilusão) já estar cuidado. Porque todo dia eu escrevia.

Mas ontem, era segunda-feira, e eu tinha uma newsletter para entregar. Quando fui reler, percebi que não era isso que eu queria. Expectativas no meio dos prazos. Que desânimo.

Cada item para cortar da semana tem subitens que esquecemos de listar. Eu não sei se a gente esquece ou se é processo da memória: esquecer para sobreviver e continuar.

Eu percebi estar sendo sufocada pelo desejo de criar algo "prático", cheio de links e dados, parecia ser o que "deveria" ser. No entanto, no fundo, não estava alinhado com o que o Se Organiza, Artista realmente representa para mim.

Sempre acho que aqui deveria ser mais o que os outros esperam de uma newsletter de um projeto que tem um SE ORGANIZA: gritando na chamada. Que vai ter dicas práticas de organização, como criar um pitch, como fazer um projeto e afins.

Mas eu estava frustrada. Nunca gostei disso.

Isso já existe em outros lugares: vídeos no YouTube, livros de “passos e exercícios”, outras consultorias baseadas em perguntas e respostas. São ferramentas úteis, claro. Mas não me ajudem a atravessar a tempestade. Isso não constrói o barco, saca?

Logo, o SOA não é sobre isso, porque ele veio dessa necessidade. Não te ajudamos de cara a comprar a melhor vela para o seu barco. Tentamos te lembrar que, mesmo com motor, um barco à vela sempre vai precisar de vento para navegar: todos os ventos. E que entendendo isso, você vai na loja especializada comprar suas velas, sabendo responder qualquer pergunta aleatória de um vendedor ou de um edital.

Esse projeto não é uma resposta às expectativas de quem busca soluções práticas e simples. Para mim, o SOA é um contra-expectativa do mundo capitalista da produção.

Claro, sei fazer tudo isso, e valorizo demais, pois é assim que pago efetivamente minhas contas, mas o que me deixa vulnerável toda semana; e também nos cursos e palestras que ministro: é o que não sei fazer.

Como estar despida de desejo? Como listar o que não tenho e buscar nas minhas próprias raízes para seguir o processo criativo, porque ele é seu e só seu.

Porque para seguir nas tais ondas que vamos precisar surfar quando o barco naufragar e precisarmos saber que pode naufragar, nem ministério de cultura tem mais, lembra? E voltar à areia seca é ter a coragem de olhar o mar com sua verdade e repleto de coisas que não conseguimos ver e nem sabemos ainda que existem. Mas existem.

Escrever a carta, narrar, não é fácil. Não se enganem.

Eu coloco toda semana na lista e no calendário: escrever o SOA, publicações SOA, relatórios SOA, referências SOA, e, no fundo, claro, é quase uma piada. Cadê os subitens? Os subitens que isso vai acarretar na minha capacidade de existir.

Nas últimas semanas tenho tentado cronometrar meu tempo para tentar organizar meu trabalho e valorizar o meu processo. Sabe quantas horas gasto para entregar um trabalho que 4 pessoas hoje me remuneram?

Meu ganho mensal com o SOA é de 18 euros, com 4 assinantes pagos! (Muita gratidão!) Eu gasto hoje, por semana, no mínimo cerca de 25 horas escrevendo, além de gravações, edições, leituras, escutas, e insônias que nem contabilizei ainda.

Nos últimos ciclos de 6 dias entre as cartas, percebi que estava me sufocando com os prazos e as expectativas: de novo. E como nos preparar para processos criativos que vão ser sempre assim? Se vamos ter as mesmas brigas internas e externas nas nossas relações - porque também tá na hora de lembrar o “como foi que saímos daqui da última vez, hein?”

O desejo de criar algo "prático", cheio de links e dados, acho que vai permanecer. Porque sempre parece o que eu deveria estar fazendo e o que “deveria” ser, mas não estava alinhado com o que o Se Organiza, Artista representa para mim.

E é algo que sempre falo aos meus artistas no particular: no fundo, só importa sermos coerentes com o nosso desejo. A gente fica fritando, pensando nisso por tanto tempo, mas no final, é só isso mesmo que importa. E com essa recordação, fui arquivando tudo da antiga carta 39 e essa de agora, cheia de confusão, foi surgindo. Tá viva.

É meu, mas é coletivo

O SOA vai continuar sendo um projeto meu, embora coletivo, e vai ser minha própria contra-expectativa de que eu conseguiria me organizar com soluções práticas e uma rotina mais regrada.

Então, se quiserem me convidar para dar workshops de produção de passo a passo para criar seu projeto, eu juro: eu dou. (e me chamem! Eu amo!) MAS, vou gastar mais tempo do que você imagina falando sobre a vulnerabilidade de dizer o que não sabemos fazer, de olhar para o processo criativo com mais humildade, com desejo de ingenuidade e abraçar o medo com mais alegria.

A pergunta que fica é: como equilibrar a organização prática, as necessidades de quem nos segue ou das bancas que nos avaliam, com a necessidade de criar algo genuíno, verdadeiro, que ressoe com os outros e comigo mesma? Estamos sempre aprendendo a viver com nossa ingenuidade. Temos que nos permitir ser, sem saber onde isso vai nos levar.

A escrita, salva parte da minha razão. E eu consigo com essa ferramenta aterrizadar partes de mim.

É muito louco quando chego na terça-feira escrevendo o dia inteiro e minha cabeça não para de escrever, mas não chego a um final, nunquinha. Passo a madrugada escrevendo, e isso me deixa angustiada, porque acho que não tenho as ferramentas que preciso para ser escritora.

Validações

Outro dia, uma amiga me escreveu no WhatsApp dizendo que eu era a escritora favorita dela. E isso me deixou meio alucinada. Senti como um tom de cobrança e um alerta que ela despertou em mim sem saber.

Não é a primeira vez, outra pessoa também me chama de escritora. E ser escritora, veja bem, sempre foi um sonho de criança. Eu não acho que já realizei isso, só porque estou aqui, com 39 cartas escritas, ou porque de fato escrevo desde os meus 10 anos de idade, acumulando cadernos.

Mas ninguém ainda me valida como escritora. E o que importa: nem eu mesma.

Na verdade, agora, tenho duas amigas que me validam como escritora, antes de mim mesma, e isso me deixou muito feliz e triste. Elas não me validaram do tipo "nossa, como você escreve bem", mas de forma natural, como se isso fizesse parte do nosso dia a dia. A Chaiana? Chaiana é escritora.

Isso realmente me deu uma certa perturbação.

Eu não acho que estou perturbada só por causa disso. Já falei muitas perturbações por aqui.

Decidir ou morrer

Essa semana, tive que fazer (como sempre) grandes decisões para a vida seguir em frente. (Qual é a semana que a gente não faz isso?) E várias delas não eram exatamente o que eu queria.

Fico muito tempo tentando fazer algo que não quero, dizendo muito alto e gastando muita energia gritando um "eu não quero fazer", e quando faço, é muito mais rápido e simples do que imaginava.

Uma hora tocando um bloco de gelo ou presa com patins no gelo é uma decisão. E essas mulheres decidiram passar esse tempo com cabeça, corpo e ação num só lugar, e a gente chama isso na arte de performance. E a escrita e o cinema, seja qual for a sua arte, precisa disso: de tempo na presença e saber que o gelo vai derreter. E eu acho que isso acontece com essas cartas, mas não com o processo de escrita em si, porque ele nunca é rápido e a escrita parece que, sei lá, é a Antártica, que nunca vai exatamente derreter.

E as outras tarefas são rápidas, mas eu me martirizo com certos processos de trabalho que estão completamente travados. Não é uma procrastinação, exatamente, mas é medo. É não querer dar de cara com decisões que eu fiz no passado e que hoje acho mais descabidas.

Não sei, eu tô travada, eu tenho calafrios, essa sensação de congelamento vem junto com a agonia. E eu sempre fico nessa técnica que é falar, falar, falar, falar, falar. Mas eu tenho esse amigo que veio aqui essa semana e disse: "Nossa, como é que você aguenta? Ela fala muito." Mas é graças a só você falando um "hum, hum", um "hum, hum", um "hum". Às vezes você nem precisa responder a Chaiana, porque ela fala tanto que daqui a pouco ela consegue se autorresponder. Mas e quando a gente cala?

Falar e calar

Esse podcast tem me acompanhado e eu fico pensando: "Eu não vou escrever, eu só vou ficar falando agora no áudio, porque eu acho mais fácil." Mas aí depois eu lembro que não, eu tenho esse roteiro, eu preciso de organização. A minha cabeça não funciona assim do falar, falar, falar, porque não é isso que eu consigo dar pro outro.

Isso às vezes é o que eu dou pra mim e eu fico usando o outro pra isso, mas eu não acho esse processo honesto, muito menos aqui nas cartas da semana.

Quem vai entregar essa fórmula pra gente, eu não sei, porque eu acho que ninguém vai. Ninguém vai te dizer o que você é ou deixou de ser ou como se faz. Ninguém vai te chamar de cantora, escritora, narradora, podcaster, influencer, seja lá o que for, se não for você mesma. E por mais que eu tenha sido chamada de escritora, isso me deixou feliz, eu não consegui me chamar e, sinceramente, agora, é isso que me importa.

Porque…

“por mais que seja duro esse caminho, eu o escolhi”

Que é o caminho do redemoinho, é o caminho da tempestade. E esses instantes, esses momentos, essas invenções, eu volto à foto. Aquela mulher agarrada com seu diamante, no meu ditado popular da semana: "tirar leite de pedra."

E no podcast da Tamara, eu escutei que o pai dela falava pra ela, filha:

"Dá o mesmo trabalho sonhar grande ou pequeno demais."

E outra frase que ficou foi: “a sós, mas não sozinha”, veio dessa escuta, da minha escuta de mim, da Chaiana, que respira, sai das redes sociais e procura escutar. Sai, sai, sai. Você precisa de solidão.

Mas também falar e escutar sozinha é uma grande loucura. Então, eu fui escutar, e o meu escutar geralmente vem da literatura, nem que seja através de um audiobook, como foi dessa vez. E sempre veio. Então, é muito bom respeitar os meus valores e as minhas jornadas, porque é isso:

Se as crises vêm em repetição nos nossos processos artísticos, talvez as respostas também possam vir em repetição.

A gente não tem que ficar toda hora buscando respostas inovadoras para os problemas que a gente já teve no passado. Como a gente saiu daquele buraco? Lembra? Vamos voltar a essa resposta. Às vezes, só fazer o que sempre deu certo é o que vai ajudar a gente a sempre estar seguindo em frente. Não tem fórmula mágica, embora tenha passo a passo que ajude a gente a caminhar.

Qual é a performance que a gente vai escolher colocar os nossos corpos para sobreviver? A coragem de se colocar diante do mundo, sem barreiras, seria verdadeira arte?

Você acha que aquelas mulheres presas no gelo, abraçando o gelo, tocando o gelo? Não tem medo.

E hoje, talvez a carta seja sobre isso: nunca, jamais ignorar nenhum sentimento, inclusive o sentimento de sentir medo. Ele é tão honesto quanto precisar de coragem.

Sinceramente, eu não sei como finalizar essa carta de hoje…

Epílogo: "A Sós, Mas Não Sozinha"

E como essa mulherada dos anos 70 quebrando gelo, derreteram de alguma maneira o meu verão europeu. (piegas) E não gosto, mas eu vou deixar aqui o que eu escrevi para ser carinhosa comigo mesma.

Mesmo que não seja um final arrebatador, mas seja a vida artística e a vida, existe outra. É assim, nossos momentos congelados, mas sempre derretendo, se transformando. Sempre nos convidando a olhar mais de perto.

Nada na história se repete, e é preciso lembrar desta repetição para a gente não se repetir, mesmo repetindo sempre que a gente vai paralisar. Os processos, eles são cíclicos, são em ondas, você pode usar a metáfora que você quiser, barquinha no vendaval, pode ser as coisas um pouco parecidas, mas igual nunca é. É o tal Rio de Heráclitos de a gente nunca vai entrar no mesmo rio duas vezes, é impossível. Nem quando a gente congela um bloco de gelo para fazer música.

A gente segue criando, mesmo, e vai seguindo, e eu fico sempre muito feliz de você ter chegado até aqui.

O que ficou muito grande essa semana, porque foram, como eu disse, muitas coisas que tentaram entrar nessa carta, e eu não consegui achar o lugar, mas eu queria botar, foi a seção que eu coloco da cartografia cultural. É o espaço de notas sobre culturas, políticas públicas, os causos e contextos de mercado, tudo que não coube exatamente nessa narrativa e forma de carta, segue abaixo.

Se você chegou até aqui, agradeço de todo coração, pela escuta, pela leitura.

E espero te ver na próxima carta, com mais insônia, reflexões e novidades no caos.Até semana que vem!

Com carinho e energia,
Chaiana Furtado 💜
Beijos de #FocanaLuz ✨

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🧩 Cartografia cultural

Abrindo esta semana esse espaço com notas sobre cultura, políticas públicas, causos e contextos do mercado da arte e audiovisual. Tudo aquilo que não coube na cartinha, mas atravessou.

↳ A Necessidade de Estudar

  • O processo criativo não é apenas sobre fazer, mas sobre aprender. Estudar. Refletir. Estar atenta às transformações do mercado e usar essas informações para crescer. Na Rede do SOA, publicamos sobre dados que podem ajudar os artistas a interpretar o cenário cultural e encontrar caminhos mais sustentáveis para sua música e carreira. O estudo, a análise, são partes do nosso processo criativo.

↳ A publicidade e o capitalismo que tudo abriga

  • Viver em um mundo saturado de imagens e publicidade é estar rodeado pela criação de soluções. O capitalismo tem o poder de gerar grandes ideias, financiar sonhos, realizar projetos que, muitas vezes, a arte não consegue concretizar. Publicidade e arte têm a mesma matéria-prima: a criatividade. Beba-a!

  • Deixar ai um rabicho que também lembrei com essa foto do gelo e outras “performances” – limpei as que vieram na cabeça sobre mudança climática e fui resgatar o carnaval de 2025. Um bloco de gelo no meio da rua. Dentro: latas de cerveja. Quem conseguia tirar uma, ganhava. Do lado, uma fila de foliões impacientes. Marketing, suor, festa, gelo, desejo.

  • A campanha do Zé Delivery para o Carnaval 2025, com o slogan "Sem Frias, Só Geladas", visava garantir que os foliões pudessem desfrutar da festa com bebidas sempre frias, mesmo com o calor do verão.

↳ Manual de Boas Práticas

  • O Manual de Boas Práticas para o Cinema e Audiovisual em Portugal já está disponível online. Este trabalho, que nasceu do esforço coletivo da MUTIM, é um passo importante para garantir ambientes de trabalho mais justos, seguros e inclusivos para todas as pessoas do setor. Esperamos que vos seja útil nas vossas práticas profissionais e que o possam partilhar com colegas, entidades e instituições com quem trabalham.

  • Podes consultar e descarregar o manual aqui: Ver Manual

  • Fizemos uma chamada também para compartilharem no nosso Instagram! Acesse, leia, compartilhe: aqui!

↳ No dia seguinte, da carta 038

  • Fomos parar no ranking que não sabíamos que existia de "Rising" no Substack. Dia 11 de junho ficamos em 40º lugar mundial de Artes e Ilustração <2 #40 Rising in Art & Illustration. Fui olhar claro os 39 anteriores e ninguém escrevia em português, então estamos em primeiro de crescimento de artes que escreve em português! HIHUUUU!

  • Conseguimos +1 assinante pago também! E eu chorei. E acho que foi graças a essa assinatura (também) que fomos parar no ranking também. A métrica de "rising" é sempre financeira, creio eu.

↳ É com muito gosto que partilhamos o Nu Mapa

  • Vai lá saber mais: Nos dias 20 e 21 de junho, o Espaço Melka, no Cacém, recebe o Encontro de Juventude e Cultura de Sintra, NU MAPA, um evento aberto à comunidade que promete ser um momento marcante de reflexão, ação e partilha.

  • O encontro é resultado de um processo coletivo que envolveu residências criativas, reuniões e muitas conversas, das quais nasceu a Rede de Juventude e Cultura de Sintra, composta por 13 entidades locais.


☂️ S.O.S da semana:

🔸 O que me ajudou a continuar foi lembrar que:

  • No mundo dos podcasts, de meditação a narração de livro, quando nos falta foco, escutar o outro nos dá voz.


🏹 #SeInspiraArtista

Artistas da semana: Charlotte Moorman & Laurie Anderson

Charlotte Moorman e Laurie Anderson são duas mulheres que tornaram as fotos que estão aqui hoje possíveis. As fotos são de seus trabalhos. ;) Suas trajetórias se entrelaçam no universo da arte performática, desafiando convenções e provocando o público com seus atos ousados e inovadores. Ambas fizeram história ao transformar a música e a performance em experiências sensoriais intensas, associando o tempo, o corpo e o espaço como elementos essenciais para suas criações artísticas.

- Charlotte Moorman - A Violoncelista Sem Blusa e a Arte do Gelo
Violista e artista performática, é famosa por sua coragem de quebrar barreiras entre a música clássica e a arte performática. Foi a musa da foto de inspiração congelamento da semana. Essa é uma das suas criações mais icônicas, chamada Ice Music, uma peça experimental desenvolvida em 1972 com o compositor Jim McWilliams. O conceito era: Moorman deveria tocar um violoncelo feito de gelo enquanto ele derretia lentamente durante a performance. O gelo representava o tempo, com cada gota derretida sendo uma metáfora para a transitoriedade e a efemeridade da arte e da vida. Em uma das apresentações, Moorman performou Ice Music no London International Carnival of Experimental Sound (ICES), onde tocou o gelo até ele se desfazer completamente com seu corpo por uma hora.
- Laurie Anderson - O Gelo, a Performance e a Música Experimental
Laurie Anderson, conhecida por seu trabalho multifacetado como compositora, violinista e artista visual, também se inseriu no contexto das performances radicais da Nova York dos anos 70. Em uma das performances mais notáveis, em 1974, Anderson tocava violino sobre patins incrustados em blocos de gelo. Assim como Moorman, ela explorava a transitoriedade do tempo e a fusão entre a música e o corpo. Quando o gelo se derretia, o espetáculo chegava ao fim.
- Ano das performances com o gelo (Ice Music):
Moorman começou a trabalhar com Ice Music em 1972, quando a peça foi criada pelo compositor Jim McWilliams. A primeira performance pública significativa ocorreu em Londres, no International Carnival of Experimental Sound (ICES), em 1973. A peça Ice Music se tornou uma das suas obras mais famosas e performadas, com algumas apresentações até o final da década de 1970. Anderson realizou a performance que envolvia o violino e os patins de gelo em 1974, em Nova York. Ela começou a ganhar notoriedade nesse período, fazendo apresentações experimentais nas ruas e em galerias.

A música e a performance, para essas artistas, não eram apenas sobre o som ou a execução técnica, mas sobre a experiência que elas proporcionavam, com um foco intenso no momento da apresentação, que se desvanecia assim que o tempo passava.

A noção de impermanência que perpassa as duas artistas ecoa através de suas performances: seja no gelo que derrete, seja na explosão de sons experimentais que nunca se repetem de maneira exata.


☎️ Referências que estudei para o texto:


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Se você também sentiu raiva, transforme em impulso.
Se quiser somar, me escreva. Porque resistir não é sozinho é em rede.

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Os entre aspas dessa edição foram faladas tiradas da escuta do podcast: Audiobook de Nós, por Tamara Klink - parte 1

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