Querido artista, perdoe a extensão desta carta, mas é que não tive tempo de fazer uma menor. Sim, poderia repetir essa citação do Padre António Vieira toda semana, enquanto me debato com o excesso de ideias, cansaço e o desejo de que tudo já venha lapidado.
Mas palavra não é fácil. Palavra resiste.
Não é só o que se faz, é como se diz.
Estou num tempo em que escrever exige de mim mais do que posso dar em um só fôlego. Preciso da pausa, do tempo de reescrever, esfriar, repensar. O tempo não está a meu favor e, talvez por isso, essas cartas da semana estejam ainda mais longas. Porque não tive tempo de fazer menor.
Talvez essa carta seja sobre isso: o tempo que preciso para escrever melhor, o tempo de ouvir e elaborar, o tempo de fazer caber a utilidade de um projeto como o Se Organiza, Artista! sem deixar morrer o que me move: esse fio íntimo, entre o que falo e o que vivo.
"Perdoe-me Vossa Alteza a extensão desta carta,
mas é que não tive tempo de fazer uma menor." 1
✦ Corpo e Criação – A Corrida Como Metáfora
Alguns fins de semana atrás eu corri, pela primeira vez (e até agora única), 10 km. Me inscrevi em dezembro, numa fase em que eu nem corria, para ajudar a incentivar essa coisa chamada mudança de hábito e meta do exercício. E aqui estou hoje, ainda com dor de cabeça, cansada, mas com aquela sensação: eu fui. Eu fiz. E isso é muito bom.
Pois, vivendo esse momento meio glorioso de superações de mente e corpo, eu lembrei, rindo e exausta, que não foi rápido chegar até aquela linha de chegada. Foi muito mais que treino de dezembro até maio. Eu já tinha tentado antes engatar na corrida. Tinha até um tênis que estava guardado desde que uma amiga tentou me convencer, cinco anos atrás. E olha só, foi apenas agora que ele saiu do armário. Correr era uma tentativa de me curar de uma síndrome pós-COVID, de um estado depressivo. Caminhei, desisti, tentei de novo, desisti de novo. E só na última ida ao Brasil é que trouxe esse tênis para Portugal na mala, num agora vai. Fui com espada de São Jorge pendurada na cintura (literalmente), porque eu tentava angariar as forças de fora para os processos de dentro.
E hoje, não só sigo correndo, numa média nada atleta de pelo menos uma vez por semana, mas que muito me orgulho, porque um é maior que zero. Como outro grande orgulho é que vai fazer dois anos que parei de fumar. E entendi: estarei sempre parando de fumar. Estarei sempre correndo.
A mente não muda rápido. Mas muda. E quando é sobre mudar hábito e padrões, sempre vale o esforço de relembrarmos isso:
vai demorar
, mas mudar é uma opçãoreal
.
E aí, deparar com padrões antigos causa muita aflição.
✦ Tempo, Trabalho e o Outro – Atravessamentos
Por coincidência, serendipidade ou: menina do céu, como você se deixa passar por isso de novo? Recebi três mensagens de pessoas diferentes, com supostas urgências para projetos. As histórias foram parecidas: me atravessaram com pressa, urgência, expectativas. E depois: sumiço. Nenhuma resposta. Uma só: um "joinha".
Fiquei dias ansiosa, reestruturando minha agenda mentalmente, realocando compromissos, realojando meus devaneios. Mas aprendi (opa, será?). O que me preocupa agora é: não repetir esse comportamento. Porque o outro que te liga e te atropela vai se repetir — então, como faço eu para não me repetir? Lembrar que tempo é precioso. O meu, o dos outros. Não sei exatamente como fazer isso, mas tenho fé de que o primeiro passo é vir aqui elaborar no coletivo.
Não sejamos hipócritas: eu já fui essa pessoa, em formato de produtora trator de cinema, que deixava os outros esperando. Famoso “Oi amor, fica de standby pra mim que já volto a te ligar.” Já pedi motoristas e parte da equipa para entrarem em estado de alerta em feriados, reservei equipamentos para depois cancelar tudo. Já fui esse ruído. Hoje, não quero mais ser isso. Minha saúde mental não permite.
Não tenho mais vocação para urgência alheia que despreza o tempo do outro.
✦ Relatos✦
1. O convite que virou silêncio
Um dia, acordei às 8h da manhã com uma mensagem: “bom dia, vamos falar de trabalho?”. Respondi: claro. Me disponibilizei a abrir a agenda, escutei dois áudios com cuidado, falei: “olha, tenho hoje e amanhã, vou viajar, mas posso tentar um call”. Era abril e a proposta era para junho. A pessoa disse que estava muito atarefada (sempre estão), mas que voltaria a falar. Como não queria incomodar pelo WhatsApp, deixei em aberto um convite por e-mail.
Resumo: três semanas de sumiço. Mandei e-mail. Nada. No segundo e-mail: resposta automática: férias. Logo, o problema urgente já havia se resolvido. Talvez porque outra pessoa foi contratada, ou simplesmente porque a urgência não era tão urgente assim, e se dissipou no meio de tantas outras urgências reais que atropelaram aquele trabalhador.
Eu fui atravessada pela necessidade do outro. Passei dias sofrendo, porque um “sim” desse trabalho teria me feito mudar toda a minha agenda, reorganizar escalas, compromissos e expectativas diversas.
Mas resolvi voltar ao WhatsApp e enviar uma nova mensagem, pelo meu bem mental:
Oi, fulano, tudo bem? Escrevo só para não ficar aqui na ansiedade, porque mandei e-mail e vi que está de férias. Então, perdão. Como já passou um tempo desde a nossa última tentativa de reunião e imagino que as coisas possam ter seguido em outra direção por aí, estou prestes a fechar alguns compromissos que vão deixar minha agenda mais engessada em junho e julho. Queria só confirmar contigo se não tem mais necessidade ou se ainda faz sentido te esperar para pensar em uma conversa. De qualquer forma, obrigada por ter pensado em mim para colaborar com vocês!
A resposta foi algo no tom de: “Opa, segue aí. Não mude nada por mim. As coisas por aqui realmente mudaram.”
E eu? Fiquei pensando se fui realmente uma opção ou só uma aflição momentânea do outro, em relação ao próprio trabalho.
2. A ligação que não aconteceu
Duas semanas depois, o mesmo enredo. Outra pessoa. Essa foi mais difícil de engolir, porque nem a resposta do “opa, pode seguir” veio. Fico triste, mais pela pessoa do que por mim.
É assim que queremos trabalhar no mundo da arte? Tratar colegas produtores como se fossem descartáveis?
A pessoa mandou mensagem naquele mesmo tom genérico de primeiro contato:
“Opa, tudo bem? Fulano me passou seu contato. Me avisa um bom momento para falarmos?”
Respondi: “Olá, posso em uma hora mais ou menos.”
Veio: “Claro! Estou em uma reunião, me libero em uns 40 min.”
Passaram os 40 minutos. Mandei: “Oi, conforme combinado, já estou disponível.”
Veio: “Presa aqui ainda =/ Se ficar tarde aí, podemos falar segunda. Mas adoraria hoje, se possível.”
Respondi: “Ok, tô por aqui, me avisa.”
Três horas depois, às 22h de Portugal:
“Presa ainda nesse fuso Brasil. Vamos segunda sem falta? Você pode às 10h daqui / 14h daí?”
VOCÊS ENTENDERAM que não fui eu quem procurou essa conversa, né? Eu não estava buscando falar com a pessoa. Inclusive, até hoje, não sei exatamente o que era. Me mandou uma mensagem querendo falar, mas era ela que não podia falar e isso, para mim, já é o princípio da loucura da sobrecarga.
Mas… falei::
“Sim, a princípio posso. Mas se for urgente, manda um áudio quando puder, respondo depois no meu fuso. Qualquer coisa, falamos segunda. Fica tranquila. Boa noite por aí! Beijos!”
Segunda? Nada. Nem às 10h. Nem às 14h. Nem depois.
Esperei, mas resolvi insistir (meu erro, esse?) — acho eu que com gentileza. Então, às 19h de Portugal, mandei:
Oi, fulane! Tudo bem por aí? Imagino que sua rotina esteja uma correria, entre urgências e compromissos. Você tinha comentado que me procuraria hoje, então acabei ficando no aguardo. Não sei exatamente o que era, mas imagino que tenha se resolvido, já que era algo urgente e depois não rolou mais contato. De todo modo, sigo por aqui se precisar de algo. xxx gosta muito de você, então achei ótimo o contato ter vindo por ele. Um beijo!
E? Nada.
Sinto mais tristeza. Porque isso — esse silêncio, esse descompromisso — virou prática comum.
Mas é assim que queremos trabalhar?
Não sinto nem um pouco de saudade de mim nessa pele de produtora de cinema, que fazia isso com os outros e achava natural, dentro do nosso mercado, esse comportamento. Que dizia: “segura aí, vou te ligar, é urgente... não, só mais 10 minutos.” Uma lógica hierárquica e corrosiva.
Porque, geralmente, quem pode fazer isso é quem está contratando — e a outra pessoa, ansiosa na espera, é a que precisa do trabalho.
Também não sinto saudades da minha personagem que, além de produtora de cinema full time, era fumante compulsiva. Que achava que o vício ajudaria na convivência e aliviaria as angústias. Não.
É sobre descartar o outro. Esquecendo que a gente também é descartável.
Sobre fazer do tempo do outro um mero satélite da sua própria urgência.

3. A parceria que virou joinha
Ainda mantendo, como prometido, essa carta longuíssima, eu tive outra reunião, pessoalmente, com uma artista que precisava de ajuda para produzir uma coisa. Uma parceria. A conversa foi ótima. Ela disse que, além de mim, estava falando com outros possíveis colaboradores. Saí animada, feliz! É tão bom encontrar pessoas que te inspiram com boas ideias, pensando que poderíamos ter uma parceria frutífera. Interesses parecidos, expectativas alinhadas. Recebo depois uma mensagem fofa: “Olá Chaiana, como estás? Podemos marcar reunião sexta ou sábado para falarmos de iniciar nossa colaboração?”
Respondi tentando cortar caminho. Porque, veja bem, mais uma reunião não dava. Geralmente eu dou bastante já na primeira conversa. Estudo o projeto, entrego feedbacks, ofereço grande parte do que seria meu trabalho. Faço muito e com amor, invisto mesmo. Tento fazer essa primeira conversa ser a mais esclarecedora possível — do que posso entregar, do que a pessoa quer — justamente para que depois venham só os acertos, incluindo os financeiros: logística, valores, funcionamento. Tendo passado pela primeira reunião, rolou o match: vamos começar a colaboração!
E tentando manter esse compromisso, comigo inclusive, de estar menos disponível às incertezas do outro, mandei a seguinte mensagem:
Bom dia! Tudo bem? Eu não estarei em Lisboa nesses dias, mas consigo fazer uma chamada na sexta pela manhã. Se quiser adiantar, podemos falar por telefone hoje. Diga-me o que prefere. Você tinha comentado que iria sugerir uma proposta, chegou a avançar em algo? Pois se quiser me enviar antes, já consigo dar uma olhada, pensar e podemos avançar daí, caso haja necessidade de ajustes. Obrigada!
Sabe o que recebi 14 horas depois? Um emoticon de joinha. Esse: 👍
E só. Eu juro.
Doze dias se passaram. Não sei se foi um “sim”, um “não” ou apenas a falta de tempo para me responder, ou ligar, ou desenvolver caminhos de comunicação mais eficazes.
Me diz: consigo desejar uma parceria com alguém que trata meu tempo assim?
Ok, era um trabalho remunerado. Mas, sinceramente, hoje em dia certos dinheiros não valem. É muita ansiedade e agonia.
Lembra do que falamos na última semana? Da ilusão de dizer sim a tudo2. Da urgência de abraçar cada convite. Já passei dessa fase. E essa fase agora — essa em que estou — não sei bem ainda como tatear essa transição, nem como nomeá-la. Mas enquanto isso vamos transicionando e compartilhando.
Talvez até eu esteja me expondo demais com as mensagens que enviei, mas, sinceramente, eu quero feedback também. Já que tive silêncio das pessoas para quem mandei, me digam vocês: fui rude? Grossa? Péssima? Irônica? Não era minha intenção. A gente realmente precisa melhorar a palavra. Ter tempo para as mensagens. Não sei.
Essas cartas são sobre vulnerabilidades, tentativas e processos. Então achei importante trazer os exemplos. Pra que talvez te ajude a ilustrar também as repetições que você, que me lê (ou escuta), faz — ou recebe — nos contatos com parceiros de possíveis trabalhos no futuro.
✦ Cuidado e Comunicação: o que sustenta a arte
Hoje, prefiro relações à promessa de resultado. O final: o filme, o prêmio, o Oscar, sinceramente, não me importa. A conta da saúde mental já chegou, e veio altíssima. Eu não quero voltar lá. Esse é meu trauma. Consegui, antes de tudo, equilibrar relações saudáveis. E essas, sabemos, exigem muito tempo, escuta, diálogo e muita tentativa de comunicação.
Claro que eu quis responder o joinha com:
“Oi, queride, o que é esse joinha? Isso “👍” quer dizer o quê?”
Mas não respondi. Preciso justamente poupar meu tempo e energia, porque esses recursos não são infinitos. E, como perceberam nas situações 1 e 2, eu tentei mandar e encerrar o ciclo. Na terceira vez, já deixei o joinha falar por si. Porque eu já fui esse fantasma. Já deixei mensagens sem resposta. E às vezes ainda volto a essas sombras. E não tenho orgulho disso.
Tenho vontade de voltar no tempo, pedir desculpas a algumas pessoas e dizer:
“Desculpa. Eu não tinha espaço emocional, mental ou de trabalho pra te dar atenção naquela fase. Eu sinto muito. Você merecia mais do que um ghosting de trabalho. Hoje, tento não fazer mais isso.”
Embora, galera… trabalhos e e-mails sem resposta seguem aqui na minha caixa de entrada.
Eu, como essas pessoas que entraram em contato comigo: não dou conta.
Simplesmente, não dou.
Tô sozinha na empreitada de CEO de MEI / Recibo Verde. São duas caixas de e-mail, três contas de Instagram, esse espaço, os freelas, os romances da vida, o sobreviver, a faxina… não precisa listar. Vocês sabem: não dá.
Mas quando eu respondo, e vou indo devagar pra expectativa do outro, provavelmente, eu ainda assim vou. Com cuidado e atenção.
Já comecei aqui dizendo: não estou conseguindo tempo de ser mais objetiva.
Mas virá o tempo!
Ahhh, se virá!
Então, eu sei: ghosting comunica.
E geralmente comunica que aquela pessoa não é má, só está sobrecarregada, tentando gerenciar mais do que consegue. Mesmo de férias, segue matando um leão por dia.
Esse ritmo de trabalho que o outro deixa claro quando te atravessa com uma proposta às vezes é o maior indicador do trabalho que você vai poder escolher se envolver ou não nos próximos tempos da sua vida.
Logo, fique alerta à forma da mensagem também e não só ao seu conteúdo.
Muitos trabalhos nas artes se desenvolvem com relações de curto prazo, mas que, quando “dão certo”, viram contratos e ligações de longuíssimo prazo, vinculadas ao produto que esses trabalhos geram.
O que me preocupa, no meu caso, é não escorregar de novo.
E também refletir se os nossos modos de trabalhar, produzir e operar na arte não podem ser diferentes.
Falo de três mensagens. De três pessoas. Com perfis completamente diferentes. Inclusive, em países diferentes.
Isso foi só o meu último mês.
E também me faz pensar: será que nossa produtividade artística e nossos modos operantes não podem mesmo ser diferentes?
Hoje, o que tenho de mais valioso é o meu tempo.
Quem o respeita, também me respeita.
E quem me paga por ele, em seu formato de trabalho, valorizo ainda mais.
Quem usa esse tempo com consciência, também.
Reuniões para se ouvir mais do que para ouvir o outro, mensagens sem propósito, e-mails vazios, propostas irreais: isso é sobre o outro, não sobre mim.
Eu trabalho com tempo. Assim como você.
E também não sei gerenciá-lo da melhor maneira possível, percebo.
Você, que pode — e escolhe — vender todo o seu tempo por dinheiro, em nome da arte, do cinema, sei lá do quê: parabéns.
Mas saiba (e acho que você sabe) a conta chega.
Às vezes, cheia de dinheiro, prêmios e glamour.
Às vezes, cheia de silêncio, doenças, exaustão e solidão.
Eu sinto saudade de fumar.
Mas não de mim fumando.
💌 Epílogo em afeto
Mas quero deixar um OBS de final de carta: estou recebendo, essa semana, a visita de um presente de ser humano que atravessou minha vida com força, intuição, amizade e amor, muito amor.
Eu, de alguma forma, fui o portal dele para coisas raras da vida.
E ele, anos depois, volta aqui com outro portal, para me lembrar a coisa mais bonita: que nossas escolhas de trabalho não afetam o que está enraizado.
Quando o amor está semeado, ele não muda: o amor transforma, ramifica e floresce.
É bom não mudar, quando o verbo é amar.
Que Lisbolha tenha te dado todo o seu amor e afeto, meu amigo.
É muito bom (às vezes doloroso) nos vermos através do espelho enorme e bonito que é o olhar do outro que nos ama sobre nós.
Mas seguimos firmes, mesmo que nem sempre tão fortes.
Porque a gente se apoia , no ombro e de mãos dadas, um no outro, na jornada. Estamos aqui.
E para todos vocês, meu muito obrigada por chegarem até aqui e estarem comigo passo a passo desses descaminhos.
Se esse texto te tocou, compartilhem, comentem. 💫
Aproveitem e me contem: onde morou em ti essa agonia da pressa que só você pode se cobrar essa semana?
Aceito sugestões, inspirações e divagâncias coletivas.
Até semana que vem!
Com carinho e energia,
Chaiana Furtado 💜
Beijos de #FocanaLuz ✨
🏹 #SeInspiraArtista
Artista da semana: Kiluanji Kia Henda
Kiluanji Kia Henda é um artista multidisciplinar que trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Sua obra frequentemente investiga o tempo, a memória, o corpo e as tensões entre o legado colonial e os futuros possíveis. Nascido em 1979, em Luanda, Angola, atualmente vive e trabalha entre Lisboa e Luanda.
O título da nossa carta da semana — “A urgência chamada miragem” — foi inspirado em sua série A City Called Mirage, uma reflexão visual sobre deslocamento, presença e ausência. Na minha tradução livre: “A cidade chamada miragem”.
A obra de Henda dialoga diretamente com os atravessamentos desta newsletter: o que nos ilude, o que desaparece, o que permanece e como seguimos caminhando, mesmo em paisagens de areia e ausência.
“Kiluanji Kia Henda estava no sul de Angola, quando, ao atravessar uma cidade quase engolida pelas areias do deserto do Namibe, deparou-se com um letreiro de metal enferrujado onde se lia “Miragem”. A palavra carcomida pelo tempo tornou-se de repente um símbolo – algo de extremamente concreto e abstrato. A fotografia daquele letreiro viria a ser o ponto de partida para uma série de trabalhos que formaram uma cidade chamada Miragem.
E se há uma cidade que sintetiza o aspecto ilusório da miragem, esta cidade é o Dubai. Ao mesmo tempo pastiche e microcosmos, modelo e paródia, esquema e miragem, o Dubai é omnipresente. Não é à toa que em diversos meios de comunicação fala-se em dubaização (dubaization) referindo-se a uma série de fenómenos urbanísticos baseados numa arquitetura espetacular e virtual que rompe com o contexto particular do território a ser investido. Trata-se de uma arquitetura que aterra mares, aplana morros e demole edifícios históricos para realizar projetos urbanísticos encomendados pela internet, tal como acontece em Luanda, cidade natal do artista.”
☂️ S.O.S da semana:
🔸 O que me ajudou a continuar foi lembrar que:
Estarei sempre parando de fumar. Eternamente.
As perguntas que me rondaram ficam aqui como fragmentos do processo de escrever e viver: com tempo, com tropeço e com tentativas compartilhadas:
Qual a resistência que a palavra dá?
Palavra não é fácil.
Às vezes, não é o que se faz, mas como se diz.O espantoso é que o espantoso não espanta mais.
Banalização do espanto: tudo é espanto, ou tudo virou normalidade?
Sigo tentando nomear o espanto. E você?
💥Oficina Estado Bruto – Nova Turma em Breve!
Está preparada para dar vida às suas ideias? A segunda turma da nossa oficina “Estado Bruto: da Faísca da Ideia ao Movimento de Criação” vem aí!
👉 Inscreva-se na lista de espera da Turma 02
🔮 Se Organiza, Artista meu!
Monte sua agenda de interesses e prepare-se com calma, fé e sem desistir.
Todas as chamadas, editais e recursos estão aqui:
👉 https://bento.me/seorganizaartista
Carta do Padre António Vieira dirigida ao rei de Portugal
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