Se Organiza, Artista!
Se Organiza, Artista! Podcast
#SOA_042 | o que deixar para depois?
0:00
-22:16

#SOA_042 | o que deixar para depois?

gerenciar tempo e afetos: o que nenhum app te diz é que a água sempre bate na bunda e os fantasmas do não feito, sempre voltam para assombrar

O dia seguinte é mágico:

Amanhã vou à academia.
Amanhã falo com ela.
Amanhã lavo a roupa.

Quais as condicionais você anda usando para adiar tuas tarefas ou encarar a realidade do agora?

Precisa de sol? De chuva? Do que é externo?
Quantas listas das listas das listas somos capazes de fazer?
O que anda saltitando como pipoca de uma lista para outra?

Essa é mais uma carta que vai das profundezas dos arrependimentos dos ditos e não ditos até o gerenciador de tempo, a técnica pomodoro e os apps de ajuda de tarefas que tentamos usar e, às vezes, perdemos mais tempo percebendo eles do que pegando o famoso:papel e caneta.1

Começamos com a pergunta:

O que você está deixando para depois é mesmo negociável?

Dadu Shin’s blue ballpoint illustrations

Sou fã de ditos populares, como alguns que me leem aqui já sabem — e tem os ditos esdrúxulos. Um que mais gosto é:

"Quando a água chega na bunda, 
ou você aprende a nadar, 
ou morre afogado."

Significa que as pessoas só tomam atitudes quando a situação se torna crítica ou insustentável.

Todo mundo procrastina, e cada um vai entender suas razões e como negociá-las no mundo real. Mas quando isso chega aos afetos, ou beira a autosabotagem, é aí que mais se acendem os alertas, no meu caso, essa carta da semana.

Quem nunca deletou os arquivos da lixeira

e depois teve que tentar recuperar porque deletou errado? Que atire o primeiro drama juvenil aos pedacinhos na lixeira de casa.

Diante disso: sou uma grande acumuladora virtual de memórias (e de papel também). Sim, já coloquei papéis rasgados com cola de volta no caderno. Tenho conversas de WhatsApp exportadas para o e-mail antes de deletar, bancos de memórias e caixas atrativas para traças.

Acúmulo é, geralmente, medo. Apego. Mas também é dificuldade de organizar.

Assim sigo: com muita coisa não muito organizada. O que não gasto com roupa, gasto bancando servidores de memória para as big techs. Porque esse dia do "amanhã onde organizamos todas as caixas"... ele chegará.
Certeza! #fé

Dadu Shin’s blue ballpoint illustrations

Entre afetos e gerenciamento de informação,

Fui afetada essa semana pela urgência de rever minhas prioridades:

Seja pelos afetos que organizaram estratégias para me comunicar algo, seja por mim mesma, travando fluxos com quem amo e coisas que preciso para manter minha saúde em dia. Aquela dificuldade de abrir espaço para conversas difíceis... Ou para os momentos que julgamos "especiais" o bastante. Como se amor precisasse de cenário com pétalas de rosas para existir.

“Quando estamos comprometidos 
em fazer o trabalho do amor,
nós escutamos até quando nos dói.”
bell hooks

As cartas que não mandei,

as lista de afetos que não saem do papel. Algumas, com nomes ali há anos. Uma promessa não cumprida.

Paradoxalmente, aqui estou: toda terça, escrevendo e falando em público, criando o hábito que completa um ano no mês que vem. Enquanto isso, as cartas particulares seguem em rascunho.

Talvez seja isso: essas cartas semanais nasceram do desejo de falar com quem nunca recebeu minha carta de papel.

Para o sentimento de alguma coisa é melhor que nada — recados na garrafa — dicionários: um SOA criado para costurar sentidos privados em coletivo. Mas a angustia cotidiana de falar, falar, escrever, escrever e ser humana a ponto de nunca saber se seremos compreendidos. Mas há a tentativa. Há a arte. Há o amor.

Dadu Shin’s blue ballpoint illustrations

📌 A lista das listas

Na minha mesa ficam os post-its das tarefas. Dentre eles:

  • Carta para mamãe (já escrita, nunca enviada)

  • Carta para Paula

  • Carta para Julia

  • Carta para Chelena

Na segunda, ignorei o aviso de urgência para enviar um presente a uma amiga com a mãe no hospital. Na terça, a mãe dela faleceu. O carinho chegou, mas eu lamentei não ter priorizado. Sentimento de culpa renasce dessas brechas. Do que achamos que podemos controlar e não controlamos e do que de fato podemos controlar, mas ignoramos.

Sustos e prioridades, um domingo de conflitos e alertas.

Almoço na casa de uma amiga que queria ter ido. Uma madrugada cheia de “decisões”. E então, quando eu achava que estava desbravando um drama muito urgente emocional: chega à urgência 1 da vida: a mensagem da minha irmã avisando que mamãe estava no hospital.

Entre a espera por notícias e o site da TAP para comprar passagem e tentar o impossível — que é romper as distâncias físicas das urgências.

Mamãe está bem. Foi susto.
Mas foi tudo isso que reordenou o tema da semana. E espero que a ordem das minhas horas, minha rotina, minhas prioridade. Sustos são alertas, melhor usá-los.

“Quando ouvimos os pensamentos, 
sentimentos e as crenças de outras pessoas, 
é mais difícil projetar nelas 
nossas percepções sobre 
quem são.” 
bell hooks
Dadu Shin’s blue ballpoint illustrations

Eu ia escrever uma continuação da carta passada — sobre nomes artísticos, de jogadores, apelidos, os made in Brasil e os preconceitos. Mas o noticiário sobre o Congresso em Portugal me chocou. O tema de nomes estava no ar, mas abri mão dele, por agora.

Não dá para entrar na sintonia de uma pauta liderada por uma tragédia antihumana que ganha maioria no parlamento português. Um declínio dos direitos humanos. Senti que, para tratar do meu tema inicial, teria que adicionar mais uma camada trágica.
E não é isso que quero agora. 2

Meu foco é trazer mais leveza, mais prática. Não dar palco à extrema-direita. Por isso, mudei a rota. E na complexidade de falar sobre leveza foi para mim também lembrar da morte.

🖤 Limiares

Porque quem faz arte está sempre no limiar da vida e da morte.

E quem não sente a urgência do "amanhã vamos morrer" talvez não consiga fazer arte. Mas cuidado: o sentimento de urgência pode ser atropelado por e-mails a responder, em vez da carta para nossa mãe. Ou por não beber água. Ou esquecer do corpo.

Reelabrando conflitos, vi que as pessoas que me importavam também eram as que estão salvas como contato de emergência no meu telefone. As mesmas que seguram minha mão quando tudo desaba são as que capazes de mais me desapontarem: e nos coloca diante do assombro que são as complexidades dos sentires humano. Como o amor, o medo, a raiva podem conviver?

Dadu Shin’s blue ballpoint illustrations

A lista dos afetos: reorganizando sentires

Inventei no processo a "lista das listas".

Eu, viciada em listas e já que elas são um processo para mim que funciona: decidi que vou realizar todo dia uma coisa da lista dos afetos.

A lista do:

Não é urgente.
Não tem prazos.
Não está ligada ao trabalho.
Mas é a mais essencial.

Na minha lista:

  • Mandar carta

  • Ver o filme da amiga

  • Ligar para minha sobrinha

  • Testar a receita do bolo formiga para o meu amor

Uma por dia. Melhor que nada.

“O amor é uma ação, nunca simplesmente um sentimento.”

bell hooks
Dadu Shin’s blue ballpoint illustrations

Organizar não é controlar

Não é manipular.
E manipular aqui é autosabotar.
É procrastinar por fé.

Lembro da amiga que me mandou um argumento pessoal, de um roteiro que estava escrevendo justamente sobre a sua doença e eu respondi: "sem tempo amiga, depois não vou ler".
Ela morreu. E eu me reli escrevendo isso três anos depois.
Eu não tinha lido. Imagina o tamanho da culpa e do arrependimento?

Perdi o casamento de outra amiga porque estava filmando uma publicidade da Heineken.
A Heineken segue bem.
Eu, não tão amiga assim.

Todo mundo tem sua lista de arrependimentos. Ela vai crescer.
Mas qual parte você ainda pode escolher não repetir?

Então, essa semana, só quero lembrar aos artistas que: a morte é uma certeza. E (também) por isso, a arte não pode ser adiada. Tenhamos do nosso lado os elementos que celebrem conosco tanto a vida quanto o luto. Seja o luto de um desejo, de um projeto, de uma verdade, ou de uma vida. O luto sempre pede passagem e prioridade.

Somos todos marcados pela finitude. Não controlamos isso. Mas podemos minimizar os atrasos. Quase todos. E temos ferramentas para isso. Para ao menos o que importam somente ao nosso coração.

"Fazer arte é algo natural, uma atividade intimamente humana, repleta dos desafios (e recompensas) que acompanham qualquer esforço que valha a pena. As dificuldades enfrentadas por quem cria arte não são extraordinárias e heroicas, mas universais e familiares." — David Bayles & Ted Orland

A ocasião especial é o agora,

sabemos.

Se algo depende só de você, que seja feito hoje.

Não é sobre produtividade. É sobre presença.
É sobre não deixar o amor, o desejo e a arte para depois.

Deixe um comentário

📚 Estudar é preciso

Sugestões dessa edição:

  • 🕒 Método Pomodoro (e como ando usando por aqui)

    Se você ainda não conhece o método Pomodoro, fica aqui o meu alow de amor real por essa técnica. Tenho usado nas últimas semanas e me ajudou bastante a lidar com o excesso de tarefas, a urgência emocional e o caos que às vezes parece engolir nossa rotina de artista autônoma.

    Funciona assim: você divide seu tempo em blocos (geralmente de 25 minutos), com pausas curtas entre eles (5 minutos). Depois de quatro blocos, faz uma pausa maior (15 a 30 minutos). O objetivo não é virar uma máquina — muito pelo contrário — mas entender os teus ciclos de atenção, dar pausas reais ao corpo, beber água, se alongar, levantar da cadeira, tomar um ar, fazer um tiktok se quiser, e voltar com mais foco.

    A minha meta aqui nunca foi virar produtiva. O que eu queria era me dar conta de quanto tempo realmente levo pra fazer cada coisa, porque tem tarefa que a gente jura que faz em 5 minutos, e quando vê passou 50. Isso afeta tudo: desde nossa organização até a forma como cobramos (ou subestimamos) o nosso próprio trabalho.

    Pra isso, comecei a usar um app que estou amando — o Focus To-Do.


    📱 App: Focus To-Do

    Ele é gratuito (com opção premium), super intuitivo, e combina o método Pomodoro com uma lista de tarefas. Você cria suas tarefas do dia, e ele te ajuda a executá-las em blocos, medindo quanto tempo você realmente gastou. No final, você ainda pode ver relatórios com gráficos e estatísticas de como foi sua semana. Pode parecer besta, mas ver esses números me ajuda a perceber padrões e ajustar o ritmo — sem me iludir com a ideia de que “dou conta de tudo”..

  • Link explicativo do Focus To-Do - video: Como se organizar no Focus To Do (meu sistema) da Jessika Rocha: Achei fofo, direto ao ponto, e pode ser uma forma acessível de começar a alimentar suas “listas das listas” com mais consciência — e menos ilusão sobre o que cabe no seu tempo real.


📖 Livro: O poder do hábito: Por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios, de Charles Duhigg.

O poder do hábito: Por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios

Confesso: eu torci o nariz pra esse livro por um bom tempo. Achava que era mais um desses best sellers com promessas milagrosas de produtividade, alta performance e outros termos que geralmente me dão calafrio. Mas aí eu li. E não é que fez sentido?

O que mais me marcou foi perceber como quase tudo o que a gente repete — inclusive a procrastinação, o medo de começar, a mania de deixar o essencial para depois — pode ser reprogramado.
Mas não no sentido de virar um robô. O livro mostra, com exemplos de vidas reais e pesquisas científicas, como os hábitos funcionam como ciclos que envolvem gatilho → rotina → recompensa.

Isso me ajudou a olhar com mais generosidade para os meus próprios ciclos. Entendi que reorganizar o tempo não é sobre força de vontade o tempo todo, mas sobre entender os sinais internos e externos que nos colocam no piloto automático. E, a partir daí, mudar pequenas chaves.

Foi esse livro, inclusive, que me deu o empurrão pra começar esse projeto megalomaníaco chamado Se Organiza, Artista!

💌 Afeto em Ação

Qual será a sua ação concreta, simbólica e silenciosa para atravessar o dia com mais presença?

Sugestão da semana:
🎧 Ouça o áudio inacabado de um amigo: e ouça na velocidade normal.

Sem acelerar. Sem responder logo depois. Só ouve.

Talvez seja aquela amiga que manda áudios longos demais. Ou aquele artista que te mandou uma ideia crua, insegura, pedindo tua escuta e ficou no vácuo. Às vezes, o que a gente ignora como "demais para agora" é o que mais precisa da nossa presença.

A arte da escuta também é uma forma de resposta.
E o afeto, às vezes, é só isso: não pular a parte difícil. <3

Deixe um comentário

Atenção!

Até a edição #041, a versão escrita e a versão falada da newsletter eram quase idênticas — o que estava me confundindo na hora de criar e também, talvez, para quem acompanha por aqui.

Agora estamos testando um novo formato:

  • O texto vem mais organizado, fluido e direto — pra quem quer passar o olho, se situar rápido ou voltar depois.

  • Já o áudio é mais livre, espontâneo e cheio de bla bla bla afetivo — com improvisos, aprofundamentos e digressões que não estão no texto.

A dica é: leia e escute, se puder.
Ou pelo menos passe o olho no esquema-resumo, acesse os links das referências, e volte quando quiser mergulhar com calma. O importante é estar junto, no seu tempo.

🔦SOS da semana3

“Quando homens e mulheres 
punem uns aos outros por dizer a verdade, 
reforçamos a ideia de que o melhor é mentir. 
Para sermos amorosos, 
precisamos estar dispostos a ouvir as verdades 
uns dos outros e, o mais importante, 
reafirmar o valor de dizer a verdade. 
As mentiras podem fazer as pessoas se sentirem melhor, 
mas não nos ajudam a conhecer o amor.”
bell hooks

☎️ Chamadas abertas em destaque 💥

📍julho
11/07 - Prémio Árvore das Virtudes 2025 – 5ª Edição: Estudantes do ensino superior em Artes Visuais e/ou Artes Plásticas
15/07 - FESTIVAL SDM 2025: Festival de arte e cultura
16/07 - 3.ª edição do Programa RESTART da FCT: Projetos de investigação
24/07 - 5ª Edição do Festival Linha de Fuga: Convocatória para curadoria dança e performance
25/07 - Reclamar Tempo – 6ª edição : Programa de apoio à investigação artística
25/07 - INATEL Frequência 440: Projetos musicais emergentes em Portugal
31/07 - Mostra Nacional Jovens Criadores 2025: Artistas até 30 anos
31/07 - Aerowaves 2026: Seleção de 20 coreógrafxs emergentes
31/07 - Edição da Mostra de Autores Desconhecidos: Enfoque em criadores residentes em áreas desfavorecidas e pessoas com deficiência
31/07 - AUDIOGEST – Internacionalização e Exportação da Música Portuguesa: 2ª fase

Monte sua agenda de interesses e prepare-se com calma, fé e sem desistir.
Todas as chamadas, editais e recursos estão aqui:
👉 https://bento.me/seorganizaartista

Apoie com o seu compromisso.

E é isso, chegamos ao fim da cartinha falada dessa semana.

Espero te ver na próxima carta — com menos peso no peito, mais ação nos afetos e uma rotina que respeite o que realmente importa: a vida que você ainda pode viver. 💜

Se o mundo vai realmente acabar, só nos resta amar.

Com carinho e energia,
Chaiana Furtado
Beijos de #FocanaLuz ✨

Deixe um comentário

Compartilhar

Até a edição #041, a versão escrita e a versão falada da newsletter eram quase idênticas — o que estava me confundindo na hora de criar e também, talvez, para quem acompanha por aqui.

1

Agora estou testando um novo formato:

  • O texto vem mais organizado, fluido e direto — pra quem quer passar o olho, se situar rápido ou voltar depois.

  • Já o áudio é mais livre, espontâneo e cheio de bla bla bla afetivo — com improvisos, aprofundamentos e digressões que não estão no texto.

A dica é: leia e escute, se puder.
Ou pelo menos passe o olho no esquema-resumo, acesse os links das referências, e volte quando quiser mergulhar com calma. O importante é estar junto, no seu tempo.

2

Para quem quiser saber sobre o que me refiro deixo o link aqui

Discussão sobre este episódio

Avatar de User