Vou te processar é uma expressão que eu adoro, talvez porque cresci assistindo a novelas, onde só os ricos processavam alguém. Sonho processar humanos – uma vez processei uma loja que disse que eu tinha dívidas com eles, mas nunca comprei lá. Ganhei dinheiro no processo, e foi ótimo. Melhor maneira de ser ressarcida nesses casos: com dinheiro.
Minha terapeuta diz que ando no processo de me lançar ao abismo, um processo corajoso de quem muda de país, carreira e convicções. Confessei que ainda não entendo muito, porque, para mim, esse tal "processo" sempre foi natural. Mas reconheço que sou corajosa na vida, porque nem descer de um escorrega eu desço, mas mudar tudo o tempo todo é hobby – mas acho que ninguém se deixar enganar pela minha risada alta: é doloroso,(pra porra!)
Como uma boa estudante de humanas, fui ao dicionário ver a origem da palavra, com grande referência aos professores que me formaram, que sempre começavam pela raiz da palavra, um grego, um latim – achava tão chique. Mas fui mesmo ao dicionário do Google e cheguei no óbvio, que às vezes precisamos desse óbvio para nomear o que sentimos.
Hoje, toda semana, compartilho aqui meus processos, esperando que você compartilhe os seus – mesmo que internamente – para que haja uma troca astral entre nossos processos. Na semana passada, falei sobre ser produtora, o que é, acima de tudo, um ato de troca. Mas por que será que artistas têm tanta resistência em compartilhar seus processos?
Por que compartilhar processos é tão importante?
Tenho assistido a alguns projetos e prestado consultoria para outros, e uma coisa que percebo que todos têm em comum é o poder de compartilhar o processo como um grande trunfo. Acho isso incrível, porque o foco excessivo no "objetivo final" é muito coisa de edital. Editais querem produtos: números de circulação, público, resultados palpáveis. Querem saber onde você vai chegar com a sua ideia, o impacto que ela terá. E sim, é necessário planejar tudo isso: "Vou levar meu nome, minha logo, meu projeto para muitos lugares, descentralizar, expandir". Se não tiver isso no projeto, pode colocar.
A oficina que fizemos nas últimas semanas foi uma tentativa de unir um grupo de pessoas com ideias ainda em estado bruto, justamente para apresentar processos variados, capazes de ampliar o repertório de quem me escutava. Quis pavimentar camadas para apontar direções. Eu comecei vendendo a oficina com a frase: “Pronta para transformar suas ideias em projetos reais?” E ri sozinha, me sentindo meio tosca, mentirosa, muito marketing. Não sei se deu certo. Não sei se alguém chegou à oficina por causa dessa pergunta chamativa de rede social.
Se alguém se sentisse realmente pronto, essa newsletter semanal nem existiria. Então, eu fazia uma pergunta esperando que a resposta fosse "não". Eu não estou pronta, mas sigo fazendo. Essa é a mágica dos produtores: sorrir, inventar respostas, porque sabemos que elas existem e vamos atrás delas. Eu não sei, mas quem sabe?
Transformar ideias em projetos reais
Eu continuo tentando dar oxigênio ao que está pulsando em mim – o movimento de expansão é constante. Já disse por aqui que o arrebatamento é meu pastor e nada me faltará. Ele guia o tempo que gasto com cada coisa, me ajudando a decidir o que merece foco.
Estou desbravando e estudando mais sobre processos criativos, mas, atualmente, faço isso através de biografias, relatos pessoais, entrevistas e dinâmicas. As histórias em primeira pessoa me encantam. São nas sutilezas cotidianas que encontro inspiração, e, por isso, me apaixonei pela obra de Leonora Carrington, pintora e escultora surrealista de origem britânica e mexicana.
Uma coisa ótima que aprendi na faculdade de humanas é que, além de sempre começarem um conceito com a etimologia da palavra, os professores também falavam sobre a biografia de algum pensador ou artista: "Fulano nasceu em tal lugar, viveu em tal época". A guerra, o tempo, o espaço influenciam tanto o trabalho de um artista quanto seus próprios processos internos. Isso me fez pensar: do que você se cerca nos seus processos? Como você quer ser encontrado e apresentado às gerações futuras?
Eu fico imaginando: "Chaiana nasceu em Vila da Penha, nunca sossegou, sempre imigrando entre sensações, sonhos e carreiras, até que…" E o "até que" mágico eu ainda estou esperando acontecer. Confesso.
Enquanto fico esperando aparecer a missão mágica da minha própria vida e do meu processo criativo, seguimos aqui, honrando nossos compromissos e trabalhando. Não é aquela famosa frase do Picasso que diz que, se a inspiração chegar, ela pode chegar, mas vai me encontrar trabalhando. Penso sempre nela – continuar, manter o processo, mudar o processo, processar. Vou guardar com mais carinho essa palavra em mim.
Comemore seus processos
Coisa boa é estar de férias – logo. Essa cartinha para o futuro é uma comemoração enorme. É pela organização, pelo planejamento preciso e, mais ainda, por não ter desistido. Número 10! Um pequeno ciclo de comemoração. Começar, seguir, não desistir: co-me-mo-rar os processos.
Na semana passada, falei sobre "vai com medo mesmo". Esta semana, eu poderia dizer: se achar que está ruim, vai ruim mesmo. O perfeito é inimigo do feito. Um amor maior aos ditos populares!
Com carinho e energia,
Chaiana Furtado
Beijos de #FocanaLuz ✨
☂️ S.O.S da semana: Estudar é preciso🐢
Esta semana, me deparei com Leonora Carrington e me deixei arrebatar. Sua obrasurrealista e um convite para viajar no imaginário. Percebi muita referência de suas obras no mundo do cinema. Não cheguei a investigar, mas certeza que acharei. O cinema bebe muito da fonte do surrealismo e do inconsciente – a magia de criar imagens “individuais” que se tornam surtos coletivos. Eu amo. Recomendo muito que você explore o trabalho dela, porque é um mergulho na fantasia e no misticismo que pode inspirar qualquer processo criativo.
Leonora Carrington viveu entre o México e a Inglaterra, e suas experiências de vida, misturadas com sua imaginação selvagem, estão nas suas obras. Acho que é isso que mais me atrai: o modo como nossas histórias pessoais moldam nosso fazer artístico. Estudar a obra dela e de qualquer artista é perceber e relembrar que o que nos cerca nos influencia e alimenta, ou seca, os tais processos.
🔦 Lanterna da Foca
Desvendando o clipe “Bedtime Story”, da Madonna: Parte das minhas viagens pelo Google me levou a um texto incrível que mergulha na alucinação da comparação de cada frame do clipe a obras de artes e lá estava a Leonora Carrington como uma das referências visuais. Eu AMO muito quem faz esse tipo de análise, de verdade – é fascinante. Ensina tanto sobre como nasce um processo criativo. Se é verdade ou não, importa? As referências estão lá aos olho atentos. Fica aqui a dica dessa análise, porque nos mostra como diferentes referências, de épocas e contextos distintos, podem se cruzar para formar algo novo. É sobre treinar o olhar.
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